No início, PLN visava facilitar a interação entre usuários e máquinas.
Tudo mudou: nem PLN tem mais esse objetivo e nem a interação, os usuários e as máquinas são os mesmos.
De trás pra frente:
– Máquinas eram os computadores; hoje, são celulares, tablets, relógios, lâmpadas, drones, carros, portas, qualquer coisa acoplada a um processador.
– Usuários são hoje qualquer ser humano, literalmente (crianças de pouco mais de 1 ano já interagem com celulares).
– Interação se resumia a pedidos do usuário e respostas do computador; hoje, se assemelha à interação entre humanos: cada parte busca influenciar ou descobrir o que deseja e o se passa com a outra parte.
– Finalmente, PLN, que é o que torna possível tudo isso, se sofisticou para atender toda a demanda. E PLN é a língua em ação nas máquinas.
O efeito colateral dessa história toda é que finalmente nos demos conta de que a língua humana está intrinsicamente ligada ao humano. Daí que um sistema que lida perfeitamente bem com a língua humana (como o ChatGPT) e que pode passar pelo teste de Turing com nota 10, indefinidamente, traz transformações profundas na sociedade.
Nós, de PLN, corremos o risco de, muito em breve, termos de nos dedicar, como detetives, à procura de soluções contra fraudes em textos. Tudo isso por decorrência de já termos alcançado todos os objetivos de PLN: “compreender” e gerar com perfeição linguagens humanas (ainda que essas máquinas não tenham a menor noção do que sabem).
Qual é o preço que a sociedade pagará pelo sucesso do PLN?
Graça Nunes